Salles deixa Meio Ambiente para chefiar “gabinete do ódio”
BRASÍLIA, 01/04/2020 – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deixará a chefia da pasta nesta quarta-feira (1) para assumir o cargo de assessor especial para redes sociais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Salles coordenará, ao lado de Carluxo Bolsonaro, o chamado “gabinete do ódio”, encarregado de disseminar notícias falsas nas redes sociais para animar a militância.
O desligamento do ministro será publicado numa edição extra do Diário Oficial da União, mas o próprio Salles antecipou a notícia ao Blog da Sadi.
“O presidente Bolsonaro concluiu que, pelo meu histórico na Sociedade Rural Brasileira, eu estou habilitado a lidar com gado”, declarou, por FaceTime, do Clube Paulistano, onde cumpre medida socioprotetiva voluntária de isolamento da realidade. “Além do que o vereador Bolsonaro necessita de um adulto por perto para lhe dar os remédios.”
O governo decidiu que Salles não será substituído à frente do MMA. “O cargo ficará vago, como sempre esteve desde janeiro de 2019”, disse o general-vice-presidente Hamilton Mourão, instado a comentar a saída do ministro durante uma cerimônia de homenagem a Brilhante Ustra na Esplanada. O salário de Salles será usado na política de alívio econômico do empresariado governista. Segundo Mourão, o recurso será usado para comprar ações do Madero: “Umas 5.000 ou 7.000.” Questionado sobre o futuro da política de combate ao desmatamento, o general, que preside o Conselho da Amazônia, devolveu: “Que política?”
Especulações sobre a saída de Salles do ministério vêm sendo tecidas desde o ano passado, quando o ministro fracassou em gerenciar a crise das queimadas na Amazônia, a crise do óleo no Nordeste e a explosão do desmatamento. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, ao ver que Salles havia perdido completamente o controle da gestão ambiental no Brasil e ainda assim teve coragem de pedir dinheiro às potências internacionais na COP25, Bolsonaro concluiu que o ministro era um ativo do governo e merecia promoção. “Não era, afinal, apenas um office-boy do agro. Se fosse militar, teria virado ministro da Casa Civil”, disse um aliado que ainda não rompeu com o presidente.
Segundo essa fonte, Salles havia declinado do convite, de olho no fundo bilionário da conversão de multas ambientais para alavancar sua candidatura em 2022. Mesmo assim, passou a frequentar assiduamente a ala psiquiátrica do Planalto e a dar conselhos ao presidente. Teria sido de Salles a redação final do célebre discurso de Bolsonaro de 24 de março. “Ninguém mais ali conseguia escrever um período completo”, afirmou um general. No entanto, com a expiração da Medida Provisória que criava o fundo, e sem conseguir mudar as regras de nenhum outro fundo da área ambiental em benefício próprio, o ministro antecipou sua saída.
Salles e Carlos Bolsonaro terão a missão de convencer milhões de robôs do Twitter de que a estratégia do presidente para lidar com a crise sanitária faz algum sentido. “Começamos a notar que nem os perfis falsos estavam apoiando mais o presidente. É muito estranho isso. O conluio dos que são contra a maneira diferente de governar criou uma isentosfera vermelha até mesmo no mundo virtual. O sistema irá até onde muitos nem imaginam”, tuitou o 02, em sua sintaxe peculiar, sem especificar se o sistema em questão era real ou figurado. “Tirem suas conslusões”, prosseguiu.
A saída do ministro, porém, não deve ocorrer sem traumas. O presidente do Ibama, Eduardo Bim, confessou a policiais militares que não sabe mais a quem obedecerá cegamente na ausência do chefe. O comandante do IPMBio, coronel Homero Cerqueira, em estado de desorientação há mais de um ano, não soube responder se Salles faria falta. “Só sei que a culpa é da Greta!”
Para mitigar o impacto de sua saída, Salles editou duas portarias de despedida, que também deverão ser publicadas nesta quarta-feira. A primeira determina a publicação em 24 horas do Plano Anual de Fiscalização na página do Ibama na internet, a fim de “facilitar a vida dos pais e mães de famiglia da Amazônia que precisam de estímulo econômico”. A segunda determina que trabalhadores aliciados para atividades de desmatamento na Amazônia deverão manter distância mínima de 2 metros entre si. “Não é porque o presidente está do lado do vírus nós não nos preocupamos com as pessoas”, disse Salles.
Cumprindo a tradição do OC nesta data, este texto é falso. Os estragos causados pelo governo Bolsonaro na política ambiental brasileira, porém, são desgraçadamente reais.
Fonte: http://www.observatoriodoclima.eco.br/salles-deixa-meio-ambiente-para-chefiar-gabinete-odio/